sexta-feira, 3 de setembro de 2010

RELATO BREVET 1001 MIGLIA - NERVIANO-IT - 16 - 22/08/2010 - RUBENS P.GANDOLFI

RELATO BREVET 1001 MIGLIA - NERVIANO-IT - 16 - 22/08/2010 - RUBENS P.GANDOLFI 3a PARTE pág.01
8- A PROVA - FINALMENTE - CONT.
DEIVA MARINA PC16 - CASELLA LIGURE PC17 92Km - 1424Km ACUMULADOS
A ansiedade com a proximidade da chegada fez com que não conseguisse dormir as cinco horas previstas em Deiva Marina. As 04:30hs já estava acordado e arrumando o material para a partida, que ocorreu ás 05:10. Como o PC apresentava condições precárias de alimentação, decidi partir sem comer, e, como já estava por amanhecer, procuraria um bom café na localidade mais próxima, o que acabou acontecendo. O trecho de 92km seria praticamente o último com fortes subidas: já na saída de Deiva subi de 0m à 500m em 12km, descendo novamente ao nível do mar no km24. Subidas leves até o Km 56, com 160m. Do Km 56 ao 72 a maior inclinação da etapa, atingindo 700m. Do km72 ao 92 leve descida, com chegada e Casella Ligure em 400m. Outro momento de emoção foi identificar, nestes aclives e também nos da etapa de Deiva, os de maiores inclinações, mensagens de incentivo de fãs, pintadas na estrada para os participantes do Giro da Itália. Sim, pedalamos por diversos trechos onde passaram os melhores ciclistas de competição do mundo. Os dias continuavam claros e ensolarados, as subidas eram amenizadas pela temperatura ainda razoável (22-25oC) do início da manhã e também pela grande vegetação das encostas das montanhas, em um cenário que lembrava muito nossa serra de Nova Petrópolis, Caxias. Pedalando sozinho, procurei curtir um pouco a paisagem e o grande número de ciclistas que cruzavam no sentido contrário. Era sábado pela manhã e incrível o número de speedeiros que passavam, em geral com uniformes de suas equipes, girando em pelotão. A etapa foi cumprida em cinco horas e trinta e oito minutos, média de 16,3Km/h, cheguei 10:48 da manhã. O PC de Casella era excelente, com grande variedade de alimentos: massa, risoto, pão, salada, frutas e muitos componentes da organização que, além de carimar o passaporte, abasteciam nossos tempos no site com o cartão magnético. Grande número de cilistas estavam por lá e era nítido a mudança de astral: todos muito alegres e praticamente já comemorando a chegada. Faltava apenas mais um PC e 201km para Nerviano. Lembro de ter comido muuuuuito neste PC, de quebra tomando aquela cervejinha. Parada de uma hora e dez minutos e partida para o derradeiro PC às 11:58hs.
CASELLA LIGURE PC17 - CASTELLANIA PC18 55Km - 1479Km ACUMULADOS
Sob o solzão do meio-dia partí para Castellania, curto tercho de 55km que iniciava-se com leve declive dos 400m de Casella Ligure até 170m do km45, sem nenhuma subida neste trecho. Do km 45 ao 52, subida até 360m, altitude da localidade de Castellania. O trecho foi cumprido em 02:47, com média de 19,8km/h. Poucos quilometros antes da chegada, a última forte subida da prova. O corpo acusa o cansaço, mas a presença de enormes murais em preto e branco com fotos de um ciclista antigo, na entrada da cidade, aguça minha curiosidade. A cada avanço novas fotos e dizeres pintados no asfalto com listas de títulos obtidos no Tour de France e Giro da Itália. Quando chego ao PC, tudo fica esclarecido: em Castellania nasceu e morreu Fausto Coppi (15/09/1919 - 01/01/1960) recordista mundial da hora em 1942, campeão do Giro Da Itália em 1940, 47, 49, 52 e 53, Tour de France 1949 e 52, campeão mundial de perseguição (1947 e 49) e de estrada (1953), considerado um dos ciclistas mais completos de todos os tempos. O PC foi montado no local onde está seu túmulo, um monumento e uma sala com suas bicicletas, vestimentas e troféus. Coppi é um verdadeiro mito na Itália. Outra grande alegria foi a surpresa de reencontrar no PC a Joana e a Raquel que estavam com dificuldades de localizar o Isac e vieram acompanhar minha chegada. Aí cabe um esclarecimento: nem sempre o carro de apoio podia seguir por estradas pequenas e sinuosas em que os randonneurs seguiam. Ou por proibição da organização (isto estava marcado no road book que recebemos e as meninas tinham cópia) ou mesmo por serem estradas com muitos retornos e de difícil navegação. Desta forma, muitas vezes só encontrávamos o apoio realmente nos controles. Tais fatos me trouxeram novo ânimo para encarar a última e mais longa (em quilômetros) do giro: sim, estava à 146Km da glória. O controle de Castellania não apresentava muita estrutura, tomei bastante água, abasteci a mochila de hidratação, algumas fotos no monumento de Coppi e às 15:30 parti para a derradeira etapa. A meta era Nerviano até 21:00hs.
CASTELLANIA PC18 - NERVIANO PC19 146Km - 1625Km ACUMULADOS
A etapa final apresentava-se plana com a incial descida dos 360m de Castelania até aproximadamente 100m no Km15. A idéia de chegar em Nerviano às 21:00hs começou à dar errado logo na saída do PC: em um dos poucos trechos de falha, o GPS não indiciava o caminho correto e as setas aplicadas no asfalto apontavam dupla interpretação. Na ânsia de chegar, acabei por não consultar o road book (livreto impresso distribuído pela organização) e segui por um caminho errado. Subí cerca de 5 Km, não encontrava ninguém para obter informação, até que um habitante local informou que na direção que seguia não havia saída. Se tivesse consultado o road book, de cara teria visto que o trajeto era descida, e não subida como estava seguindo. Retornei por onde vim e após falar com meia dúzia de pessoas, acionar o gps e ler o roadbook, avisto ao longe um ciclista com a camisa 1001miglia. Apresso em alcançá-lo, confirmo se ele sabe onde está e sigo com ele dali por diante. Passado alguns quilômetros, a confirmação: o gps reencontra a rota. A "barbeiragem" me toma cerca de uma hora e meia. O ciclista era um senhor italiano do sul da Itália, próximo à Napoli, aparentando um 65 anos, e com a experiência de diversos brevets internacionais, dentre eles um randonneur 5000Kms costa à costa nos EUA, de 20 dias. Sigo com ele mas noto que aparenta algum cansaço. Após alguns quilômetros comenta que estava com fome e que precisava parar no próximo bar para se alimentar-se. Nesta hora o calor castigava. Sentia-me bem e queria seguir mas senti-me, não sei porquê, na obrigação de acompanhar aquele senhor. A parada no Bar foi longa, comemos Panitos (torradas) e conversamos com alguns companheiros que lá chegaram. Seguimos adiante e novas paradas para que o senhor tirasse "água do joelho". Outros motivos de parada éra para checagem do road book. Meu companheiro seguia o road book e não confiava muito em minhas indicações, baseadas no gps que voltava à funcionar normalmente. Pensei várias vezes em segiur adiante sozinho, mas algo de inexplicável fazia-me ficar acompanhando meu colega. Aproximava-se a noite e nova parada para comer um gelato (sorvete), segundo ele retribuição por eu ter pago sua conta no bar anterior. Com a chegada da noite aproximamo-nos de Nerviano e com a chegada intensificava-se o número de cruzamentos e mudanças de direção. Sob o ponto de vista da navegação era o tercho mais complexo. Apesar do GPS estar ok, acabei por seguir o senhor-ciclista que fazia rotineiras paradas para checar o road-book. As setas no asfalto confirmavam o acerto da rota. Tudo ia bem (exceto a baixa velocidade) até que as setas sumiram e na checagem do roadbook a constatação: estávamos fora de rota. Olho para o gps e também já não estava em posição. Gira daqui, gira dali e nada. Pergunta para um e para outro e nenhuma orientação. Também nenhum randonneur próximo, o que indicava que estávamos muito perdidos. Por vários minutos segui o senhor-cilista em suas intuições de tentar localizar a rota. A noite já avança e a tensão aumentava. Havia sinalizado à Joana que chegaria por volta das 21:00 horas, passei à enviar torpedos que estávamos atrasados e não tínhamos previsão de chegada. Queria chegar logo também para que pudesse liberar a Raquel no carro de apoio para reencontar o Isac. Outra questão importante: na Itália, principalmente interior, não há uma viva alma nas ruas depois das 21:00 horas. Já bastante irritado com a situação, que deveria ser de alegria pela chegada, vejo, em um breve momento, que a seta branca de localização do gps aproxima-se da linha rosa de rota da prova. Giro a bike na suposta direção e informo o randonneur italiano: vou seguir por aqui, é o que o gps está informando. Nem aguardo sua resposta e saio queimando pneu na direção indicada. Dou uma olhadinha para trás e vejo que ele acompanha. Aumento o ritmo e cerca de uns três quilometros depois estou com a seta branca novamente posicionada na linha rosa. Ufa, aumento ainda mais a velocidade, que passa dos 30Km/h,, e constato que ainda há uns 10Km para a chegada. O senhor randonneur segue junto até o final. A emoção começa à tomar conta, lembro de tudo e todos que me ajudaram à chegar até aquele momento. Mais algumas curvas e entro na avenida que dá acesso ao parque de largada/chegada em Nerviano. A Joana, Raquel e um grupo de voluntários estavam à minha espera e começa a grande festa. Encerro a prova às 23:45hs de 21/08/2010, com 122 horas e seis minutos de prova, distribuídos em 35:14 de paradas nos PCs e 86:52 de pedal (não computados aí tempos de para entre PCs).
9- A CHEGADA
Muitas lembranças na chegada, entrego o cartão de rota para a mesa organizadora, que confere e já me devolve. Recebo na hora a pesada, grande e belíssima medalha de Finisher 2010 1001Miglia , bem como o certificado da prova. Para relaxar, faço alguns alguns apoios e abdominais para provar que estou inteiro, rsrsrsrrs. Não conseguia me conter de felicidade, em superar tamanho obstáculo e de uma forma até certo ponto surpreendente. Converso com a Joana e procuro saber notícias do Isac. Após algumas incertezas e aflições, Daniel (voluntário da prova que pilotou umas das duas motos em todo o percurso) informa que Isac havia perdido-se novamente, mas localizado e estava novamente em rota, com previsão de chegada no domingo pela manhã, próximo ao horário de fechamento, 12 horas. Ficamos por ali mais alguns instantes, acompanhamos a chegada de alguns ciclistas e segui para nosso confortável Hotel Poli em Nerviano, PEDALANDO os 3km, banhado em alegria. Sem fome, mergulhei na banheira e fiquei lá por longo tempo. Após seis noites dorminho em colchonetes, aquela mega cama 2x2 parecia o paraíso. No Domingo pela manhã, nada de acordar tarde. Às 09:00 já estava desperto e com a Joana fui tomar um farto café no bar do Hotel. Rumamos para o parque de chegada, junto com a Raquel, esperar o Isac que chegou por voltas das 11:30hs com grande festa. Estava fechado os 100% de aproveitamento da saga de três brasileiros, os primeiros à concluir um brevet internacional de 1600Km e considerado um dos mais difíceis do mundo. Na lista final de chegada, 228 randonneurs de 23 nacionalidades diferentes. Largaram 269 ciclistas.
10- AGRADECIMENTOS
À Deus por ter me dado força física, espiritual e econômica para concluir este brevet. Por sua proteção em todos os momentos da jornada, de forma que não tivesse passado por nenhum grande sobressalto. À Joana, minha grande esposa e companheira que não hesitou em acompanhar-me nesta loucura, prestou apoio incondicional, com grande incentivo em todas as mimhas paradas. Te amo muito, e a medalha é nossa. Às minhas filhas, senti muitas saudades de vocês. À minha irmã Grace pelas mensagens de apoio e pelas inúmeras postagens no Blog e divulgação de informações para que todos pudessem acompanhar aqui no Brasil. À minha vó Iracema Gomes Pinheiro, que deve ter assistido tudo com muito orgulho, de onde estiver. À minha mãe, pai, amigos, sobrinhos, cunhadas e cunhados que ficaram aqui na torcida. À meus grandes e inseparáveis amigos Roberto Pena Trevisan e Paulo Carneiro Endres, com quais pedalo a maioria das provas de Randonneur no Brasil e com certeza também estavam lá comigo. À Isac Chedid Saud Filho e Raquel Saud pela iniciativa e agradável companhia nesta aventura. Valeuuuu. À Fermo Rigamonti, Diretor Geral da Prova, simpático senhor e um dos randonneurs mais respeitados na Itália, capitão da equipe 1001 Miglia (sim, 1001 Miglia também é um clube) nas edições do PBP. Fermo é bastante calmo e organizado, procurando sempore transmitir ao ciclistas mensagens de incentivo e torcendo por todos. À todos os voluntários, em especial o inesquecível Gaetano Bollini, que recepcionou-nos em sua casa, na chegada e na partida, ao motobiker Daniel, sempre preocupado comigo e o Isac e o Max, um jovem ciclista também muito dedidcado e responsável pelo abastecimento dos tempos no site. À Luis M. Faccin nosso representante ACP Brasil, grande randonneur 5000, por tudo que tem feito pelo ciclismo de longa distância, principalmente no Rio Grande do Sul. À todos meus colegas randonneurs com quem já tive o prazer de pedalar ao longo de 52 brevets, dos quais me atrevo mencionar : Edimar Silva (Graxa), Thales Moreira, Edson Alves, Vitor Matzembacker, Alex e Simone, Bagatini, Udo, os barsiliúchos Oswaldo, Demeure e Roger Ban, Carlos Polleselo, Luiz Lazzary, Rolf, Anderson, Rafael, Dacivaldo, Rodrigo Cortese, Júlio Siluk, Glademir Ximitão, Moogens, Voluntário nota 11 Miguel, César Barbosa, Guilherme, e muitos outros que peço desculpas por não citar aqui.
Em 2012 tem mais!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

1001 miglia na TV Italiana

Por aqui divulgamos o 1001 miglia através de blog's e listas de ciclismo, já na Italia, foi assunto na televisão, vejam só que bacana!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Relato do Brevet 1001 Miglia – Segunda Parte

RELATO
Brevet 1001 Miglia
Nerviano – Itália
16 a 22 de agosto de 2010
por Rubens P. Gandolfi
Segunda Parte do Relato
DICOMANO PC05 - CHIUSI DELLA VERNA PC06
74km, 560km acumulados
A temperatura às 02:00 era bastante agradável. Tomei o cuidado de sair com um grupo para evitar erros de rota. A etapa era uma das mais duras da prova: subimos, do km 5 com pouco mais de 100m de altitude ao km 22 com pico máximo de 920m. Foram 17km de puro esforço, minimizado pela brisa da madrugada e pelo sono reparador.
Do km 22 ao 50, alívio geral e descidas fortes até aproximadamente 350m de altitude.
Do km 50 ao 74, novo sofrimento, com subidas sem descanso até a chegada do PC, com mais de 950m.
Chiusi Della Verna é um local belíssimo, um mosteiro encravado nas montanhas, muito antigo. O PC oferecia boas condições de alimentação, com massa, risoto, frutas, refrigerante, etc. A etapa foi bastante dura e a média, mesmo com a descida, não passou de 12km/h.
Fiquei por lá em torno de 50 minutos e logo saí para a fase 7, que seria mais amena, apesar do sol forte.
CHIUSI DELLA VERNA PC06 - PASSIGNANO/TRASIMENO PC07
106km, 666km acumulados
Etapa bem mais amena que a anterior, marcada inicialmente por rápido declive (pequenas subidas no meio) do km 0 com 950m ao km 35 com 300m de altitude aproximadamente.
Do km 35 ao 87, trecho plano, com nova forte e curta subida do km 87 (300m) ao km 92 (600m). Rápida descida do km 92 ao 98 e plano até o PC em Paissignano/Trasimeno, uma bela cidade banhada por um imenso lago.
O calor era insuportável, mas Joana já havia chegado e descoberto um restaurante excelente, bem próximo ao PC, onde puder acabar com a fome de audacioso.
A etapa foi cumprida em tormo de cinco horas e meia e a velocidade média do trecho subiu para próximo de 19km/h.
A boa comida, a beleza do lugar e a presença da Joana fizeram-me ficar por volta de uma hora e dez minutos, sem vontade de partir. Entretanto, eram necessárias cumprir mais duas etapas no dia, parti pouco antes das 16 horas, infelizmente sem ver a chegada do Isac.
PASSIGNANO/TRASIMENO PC07 - TODI PC08
68km, 734km acumulados
Etapa curta, sem grande subidas, mas com sobe/desce constante. Sem muitos sobressaltos e poupando energias, cheguei às 19:32. Procurei ser rápido no PC, saindo 20 minutos depois para o destino final do dia: BOLSENA.
TODI PC08 - BOLSENA PC09
54km, 788km acumulados
Etapa curta e aparentemente não tão difícil, acabou por tornar-se uma das mais duras da prova. O cansaço do dia aliado à um vento contra e asfalto irregular deixou tudo complicado. Após uma descida constante nos primeiros 5km, sobe e desce do km 5 ao 27 e daí, forte subida de 0m à 580m no km 47 com descida até 340m no km 54.
A chegada em Bolsena é precedida de uma descida em caracol, com inúmeras curvas fechadas, de tontear. O local é um balneário (lago) muito frequentado e estava lotado de turistas.
Os 54km foram cumpridos em sofríveis três horas e meia, cheguei às 23:24 exausto e, para minha surpresa, o PC era horrível: acanhado, pequeno, sem condições para repouso. Por sorte, Joana e Raquel já haviam chegado e imediatamente conseguiram um hotel muito bom e próximo. Foi a salvação. Tomei um bom banho, comi muito pouco (quando fico muito cansado não tenho fome, não adianta insistir, prefiro comer depois).
Finalizado o segundo dia, com as metas cumpridas, dormi um bom sono por aproximadamente quatro horas (das 00:30 às 04:30), arrumei tudo e parti por volta das 05:00. Mais uma vez não consegui falar com o Isac, que estava com previsão de chegada às 04:30 mas ficara em um quarto separado com a Raquel.
BOLSENA PC09 - POMONTE PC10
71km, 859km acumulados
Iniciei o terceiro dia, que, conforme meu planejamento, seria o mais curto da prova, com apenas três etapas e 202km à percorrer. A curta distância permitiria uma chegada cedo ao PC-dormitório com boas horas de sono e uma saída cedo para enfrentar as quatro etapas do quarto dia.
Esta etapa de 71km não mostrou-se fácil, com uma boa subida do km 12 ao 22 (330 à 620m), forte descida do km 22 ao 32 e sobe-desce até o km 71 do PC.
Cheguei às 08:40 com uma boa média: 19,3 km/h.
O PC de Pomonte era muito bem estruturado, com alimentação farta e local espaçoso. Aproveitei e fiquei em torno de uma hora por lá. Comi bastante para repor o que não havia comido na chegada de Bolsena.
POMONTE PC10 - MONTALCINO PC11
77km, 936km acumulados
Saí às 09:40, já sob forte sol, para Montalcino. A etapa de 77km revelou-se bastante dura em função do calor, piso acidentado na primeira parte e fortes subidas.
Do km inicial ao km 12 subi de 140 à 560m, mantendo esta altitude em sobe-desce do km 12 ao 22. Após, forte descida até 120m no km 28 e nova escalada até 300m no km 45. Sobe e desce até o km 66 e, a partir daí, dura subida até 600m do km 77 de Montalcino.
Na fase inicial da etapa passei pelo PC-Surpresa, uma tenda armada entre "não-sei-aonde” e “lugar-nenhum", onde foi colado um selo em meu passaporte. Cumprida mais esta etapa.
Pouco depois, em função do piso irregular, furei meu primeiro e único pneu. Na vontade de deixar o pneu com bastante pressão acabei forçando e quebrando a tampa do ventil, o que teve de ser reparado posteriormente em Motalcino com a substituição da câmera.
A chegada em Montalcino foi extenuante, com calor passando dos 35°C e fortes subidas. A presença de parrerais belíssimos com uvas maduras e a presença próxima da Joana e da Raquel no carro de apoio amenizaram a tarefa. As duas acabaram por roubar alguns cachos da fruta (fotos comprovam o fato).
Montalcino robou a cena: um lindo vilarejo medieval muito frequentado por franceses e europeus em geral, era um local acolhedor e daqueles que convidavam à ficar. Cheguei exausto e Joana rapidamente providenciou uma deliciosa pizza, rapidamente devorada com uma spina (chopp) de 400ml.
O PC não apresentava estrutura de alimentação: cada um por sí.
Aproveitei o cenário, corrigi o problema do ventil, recalibrei o pneu com a bomba de pé do carro de apoio e acabei ficando, propositalmente, por uma hora e meia lá. Raquel e Joana permaneceram no PC aguardando o Isac, que chegou próximo das 19:00.
Tudo acertado, parti às 16:42 para o PC-dormitório do dia: Castelnuovo/Berardenga.
MONTALCINO PC11 - CASTELNUOVO/BERARDENGA PC12
54km, 990km acumulados
Trajeto curto, de baixa altimetria, com alguns "sobe-desce".
Nesta etapa, uma peculiaridade preparada pela organização: um trecho-alternativo de 14km denominado "STRADE BIANCHE EROICA" em estrada-de-chão e pedregulhos, em homenagens aos antigos competidores e randonneurs. Como o trecho era alternativo e estava com muito peso e pneus de speed, resolvi não arriscar, segui pela rota original.
Bem alimentado e motivado para chegar cedo ao PC, cumpri a etapa em duas horas e meia, com média próxima dos 22km/h. Cheguei em Castelnuovo às 19:12, ainda claro. O local apresentava boa estrutura, um ginásio também com boas duas e colchonetes para dormir.
Comi um pouco, tomei banho, conversei com Joana e fui rapidamente dormir às 20:30 para sair cedo no dia seguinte. Estava feliz por cumprir o planejamneto inicial, estava chegando sempre para dormir nos principais PCs-dormitórios e pedalando sempre junto com a maioria dos ciclistas: em todos PCs que parava não havia menos que 60-70 participantes, ou seja, estava "no bolo".
Outra boa notícia: ao acordar consegui falar com o Isac que chegara, tomara banho e preparava-se para dormir. Ele também estava na prova.
Quanto aos randonneurs cabe aqui uma observação: a grande maioria apresentava um vasto currículo de provas, com vários PBPs, LELs e até mesmo Randonneur-USA costa-costa 5000km. A forma de pedalar e os equipamentos utilizados comprovavam minha observação. O índice de desistência foi muito pequeno e não haviam descontentamentos, mesmo em PCs com pouca ou nenhuma estrutura. O pessoal parecia "acostumado" à enfrentar tais situações.
CASTELNUOVO/BERARDENGA PC12 - MONTAIONE PC13
95km, 1085km acumulados
Consegui dormir bem, das 20:30 às 01:00, saindo para o quarto dia de prova à 01:30, com a previsão de cumprir quatro etapas e 342km.
Largando cedo, na madrugada e sob temperatura amena, a tarefa foi facilitada ao encarar esta dura etapa. Tive a sorte de sair também com um grupo bastante homogêneo de randonneurs, com pedal constante e com muito boa orientação, o que facilitou tudo.
Após um sobe-desce inicial de 20km, encaramos uma boa subida de 340m até 600m do km 35, descida até o km 52, sobe-desce até o km 70 e novas subidas de 0 à 480m no km 88. Então, descidas até 340m no km 95 de Montaione.
Cheguei às 05:45, com 22,4km/h de média. Tenho poucas recordações deste PC, por meus controles fiquei 50 minutos neles e não lembro de sua estrutura.
Saí às 06:35 em direção à Montecatini-Terme.
MONTAIONE PC13 - MONTECATINI TERME PC14
53km, 1138km acumulados
Etapa curta, 53km, com apenas duas subidas leves e o restante do percurso plano. Para facilitar ainda mais, nos primeiros quilômetros uma forte descida. Verdadeiro "mamão-com-açúcar" em comparação às etapas anteriores. Aproveitei e cumpri o trajeto em 02:15, com média próxima dos 24km/h.
O PC estava situado em um bar que não estava preparado para receber os ciclistas. Com muita sorte consegui comprar um café, um suco e um salgado. O pessoal estava ainda em fase de preparação da comida.
Quando estava por partir tive a grata satisfação de encontar o Daniel Sikar que estava chegando, após sair com quatro horas de atraso de Nerviano. Conversamos um pouco, o suficiente para reconhecer em Daniel uma grande pessoa e um randonneur experiente. Daniel, o convite está feito: precisas vir ao Rio Grande do Sul pedalar conosco.
Daniel é brasileiro e divide seu tempo entre São Paulo e Londres e recentemente concluiu o LEL. Infelizmente não seguir com ele, que queria dormir um pouco no PC.
A conversa prolongou meu tempo de parada em 01:15, mas foi válido. Parti às 10:05 em direção à Aulla-Pallerone.
MONTECATINI TERME PC14 - AULLA-PALLERONE PC15
120km, 1258km acumulados
Uma das etapas mais longas da prova, com 120km, trajeto relativamente plano com uma única e forte subida, iniciando-se gradual e leve à partir do km 40 (100m) ao 75 (340m) e tornando-se forte do km 75 ao 98 (700m). Do km 98 ao 120 (PC) descida forte até 80m. Mesmo não sendo dos piores trechos, sofri muito nesta etapa com o calor que parecia ser o maior da semana.
A forte subida lembrava muito a Serra do Rio do Rastro em Santa Catarina. Neste mesmo trecho de subida, em que pedalei sozinho, passei por minúsculos vilarejos muito antigos e com a típica arquitetura italiana colonial. Em uma destas localidades, por volta das 14:00 parei para comer duas gigantescas fatias de pizza e duas spinas de cerveja com 400ml cada. Energia pura para retorno ao pedal.
Não gostei da chegada em Aulla: pedalávamos por uma estrada estreita que margeava a cidade, com muito movimento. Apressei-me em chegar ao PC para iniciar logo a última etapa do dia.
O controle era em um posto de gasolina, sem estrutura e apenas com o carimbo da prova à disposição: os próprios ciclistas carimbavam seu cartão e anotavam o horário. Encontrei alguns amigos neste PC que vinham pedalando mais ou menos no mesmo ritmo que eu, entre eles o Avi, um israelense naturalizado inglês que conversava muito comigo e o Isac desde nossa chegada no Hotel Poli, em Nerviano.
A etapa foi cumprida em longas 07:50, com média de 15,3km/h. Saí rapidamente de Aulla, às 18:25, já com uma certa dose de fome.
Passei também a ter uma certa preocupação com a Joana e a Raquel pois não haviam passado por mim em nenhuma hora do dia. Estar em um país diferente, pilotando um carro diferente, em estradas sinuosas, eram motivos suficientes para tal apreensão. Entretanto, no início da prova ficou acertado de que o carro de apoio daria prioridade ao ciclista que estivesse mais atrasado, no caso o Isac. Se isto me acalmava, por outro lado trazia nova inquietude: poderia significar que meu patrício tinha ficado ainda mais para trás, criando uma distância maior que tornava-se impossível de ser preenchida pelas meninas para atendimento simultâneo.
Esta apreensão durou até o início da tarde do dia seguinte (último dia), quando as meninas vieram ver minha chegada e confirmaram o atraso do Isac em função de novos erros de percurso.
AULLA-PALLERONE PC15 - DEIVA MARINA PC16
74km, 1332km acumulados
Nos primeiros quilômetros ainda muita agitação de trânsito e comércio, com bares de happy hour sem alimentação consistente. Fui deixando Aulla preocupado com a comida, estava com fome.
Quase na saída da cidade, já conformado em encarar boa parte do trecho sem comida, avisto uma pequena pizzaria que vendia pizzas à quilo à moradores locais. Festa!!! Vários pedaços+cerveja+focaccia para levar na bolsa e estava preparado para enfrentar a última etapa do dia.
Lamentei muito fazer esta parte à noite, pois tratava-se de um dos mais belos trechos da prova. Iríamos subir muito e descer em direção à Leviano, uma praia às margens do Mediterrâneo. Após, nova subida com grande inclinação, de modo à ver o oceano pequeno ao longe.
Descrição do trajeto: relativamente plano do km 0 ao 30, com forte subida do km 30 (130m) ao km 41 (530m), descida radical (doía as mãos de apertar o manete do freio, pois eram curvas em cotovelo) do km 41 (530m) ao km 50 (0m, nível do mar - praia), nova forte subida do km 50 ao km 57 (400m) (visão do oceano sumindo), descida até 200m no km 65 e subida estúpida de 170m em 2km (do 65 ao 67). Nova descida radical do km 65 ao 74, com chegada em Deiva Marina ao nível do mar.
A alimentação e a chegada da noite deram-me novo ânimo para completar esta que foi a fase decisiva da prova. Subidas duríssimas e descidas que exigiam o máximo de atenção tornavam o techo desafiador.
Logo encontrei um cilista espanhol com quem havia conversado anteriormente. Ele pilotava uma Colnago e era um "cavalo" em escaladas, tinha quase 2 metros de altura, tenho foto com ele. O espanhol estava um pouco perdido em função do road-book e juntou-se à mim que estava firme com meu GPS.
Procurei acompanhar o ritmo do espanhol nas escaladas e não fiz feio: o treino-massacre de 4 dias de subidas começava à trazer resultados.
Chegamos juntos à Deiva Marina às 00:10 do dia 21, 74km cumpridos em 5h e 45min de pedal e média próxima dos 13km/h, muito bom para aquele estágio.
A chegada em Deiva era marcada por diversas conversões, cruzamentos e retornos. Ao chegar ao PC, uma grande decepção: o local tinha pouca opção de alimentação, colchonetes em número insuficiente e dificuldades até mesmo de espaço para deixar a bike.
Bastante cansado mas sem fome, sem colchonete para dormir, sem roupa limpa e material para tomar banho, que estava no carro de apoio que não chegou, não via outra alternativa senão dormir rapidamente. Preparava-me para deitar no chão de uma sala onde estavam pelo menos 50 randonneurs, quando a sorte novamente chegou: dois ingleses acordaram e prepravam-se para a saída.
Apesar de todas as adversidades do PC, estava satisfeito e pouco incomodado com a situação de não poder tomar banho. Afinal de contas, praticamente todos estavam ali na mesma situação. A satisfação também vinha de um motivo bem forte: ao chegar à Deiva e concluir o quarto dia de prova absolutamente dentro do planejado, tinha a certeza de que o 1001 Miglia não escapava mais. Teria boas cinco horas de sono, apenas mais três etapas e 293km à cumprir com poucas montanhas à escalar. De quebra, chegaria no sábado à noite, cerca de 12 à 15 horas antes do prazo máximo de conclusão, domingo 12 horas.
O planejamento da festa já começava e o ânimo redobrava.
Final da Segunda Parte do Relato
Na Terceira e Última Parte: A CHEGADA E OS AGRADECIMENTOS

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Relato do Brevet 1001 Miglia – Primeira Parte

RELATO
Brevet 1001 Miglia
Nerviano – Itália
16 a 22 de agosto de 2010
por Rubens P. Gandolfi
Primeira Parte do Relato
1. A DECISÃO DE PARTICIPAR
Considerada a prova Randonnée mais famosa e importante do mundo, o Paris-Brest-Paris ou simplesmente PBP 1200km é o sonho de consumo de 11 entre 10 ciclistas randonneurs.
Comigo não era diferente, até que, em meados de abril deste ano, meu querido amigo e colega de pedais Isac Chedid Saud Filho, de Caxias do Sul, postou nas listas sua intenção de participar de uma desconhecida prova de randonneurs na Itália: 1001 Miglia, a mais longa prova Randonnée da Europa e uma das de maior altimetria.
Foi o suficiente para que fosse direto ao site www.1001migliaitalia.it, e, em menos de 30 minutos, a decisão estava tomada: esta era a prova dos sonhos, nada parecia ser mais impressionante e desafiador.
2. AS PROVIDÊNCIAS
Consultando o site, que já apresentava 280 participantes inscritos e com limitação de 300, verifiquei que teria de ser ágil e tomar uma série de providências urgentes. No mesmo dia realizei a pré-inscrição e corri ao banco para efetuar a remessa dos 180,00 euros (aproximadamente R$ 430,00) referentes à taxa de inscrição.
Vencida a primeira etapa, a próxima foi a aquisição das passagens (minha e da Joana) Porto Alegre – São Paulo - Milão e do seguro saúde (exigência da organização da prova e também para ingresso na Europa).
O Isac, ao mesmo tempo, tomava as mesmas providências em Caxias do Sul.
A próxima providência, também exigência da organização, seria a obtenção de um Atestado Médico, emitido por médico do esporte, constatando a habilitação para a prática de ciclismo de longa distância. Aproveitei e, junto com o Isac, fizemos uma série de testes, inclusive espirometria com avaliação do VO2 no setor de medicina do esporte na UCS (Universidade de Caxias do Sul).
Pronto, agora era só escanear e remeter os documentos (comprovante de pagamento da taxa + seguro saúde + atestado médico) por e-mail para Fermo Rigamonti (diretor da prova) e estava efetivada a inscrição.
3. PLANEJAMENTOS E DATAS
Desde o início ficou acertado que iríamos (eu e o Isac) com nossas queridas e amadas esposas, pois consideramos que seria - como realmente foi - um grande fator de estímulo para a conclusão da prova.
Com a ida da Joana e da Raquel (esposa do Isac) teríamos também a grande vantagem de termos um carro de apoio. Foi locado em Milão um espaçoso Fiat Ulysse, de 7 lugares.
Antes da compra das passagens tornou-se necessário a escolha das datas de saída e chegada ao Brasil. Com a prova ocorrendo entre 16 e 22 de agosto, o ideal seria chegarmos não mais que três dias antes e posteriormente fazermos algum turismo pela Itália. Entretanto, em função do aniversário de minha filha mais nova, Cristina, em 27 de agosto, resolvermos embarcar dia 7 e fazer o turismo de 8 à 13 e de 23 à 25 de agosto.
Datas acertadas, partimos para a reserva de hotéis e planejamento do turismo: dia 8 em Milão - Hotel Dei Cavallieri, partida de trem Milão - Roma dia 9 (800km em míseras três horas) e reserva no Hotel Di Petris em Roma de 9 à 11. Partida para Veneza dia 11 à noite em trem com camas e chegada na cidade-mar dia 12 pela manhã. Veneza foi o único local que não havíamos reservado hotel, mas foi fácil conseguir. Saída de Veneza para Milão dia 13 pela manhã e chegada em Nerviano (local da prova à 26km de Milão) ao meio-dia no Poli Hotel, um confortável 4 estrelas indicado pela organização e distante 3km da largada.
Montagem da bike em dia 13 à tarde e muita comida e descanso até 16 à noite.
Turismo sem local definido de 23 à 25 de agosto. Acabamos por ir à Cremona (cidade de nascimento de meu bisavô) e Padova onde situa-se a Basílica de Santo Antônio, do qual a Joana é devota.
Retorno ao Brasil dia 26, com chegada dia 27.
Assim ficou definido o planejamento e ocorreu exatamente como previsto, sem contratempos.
4. TREINAMENTOS
Ao constatar a "pedreira" que teria pela frente, o treinamento passou à ser uma grande preocupação: com a decisão tomada no final de abril, tinha praticamente três meses para aprimorar a forma. Sem condições de pedalar todos os dias em função do trabalho, optei por realizar o maior número possível de provas randonnée aqui no Brasil, e sempre que possível de pinha fixa. Assim aconteceu: flèche velócio, 200, 300, 400 e 600km se sucederam e uma prova de 400km com a fixa em 22:30 fizeram parte desta preparação.
O treinamento de pedal foi complementado com três sessões semanais de Pilates. Para que nãos sabe, o Pilates fortalece muito a musculatura abdominal e tonifica os músculos em geral. Desde quando iniciei em 2004, os melhores momentos que tive no pedal estão associados à relização do Pilates.
Para fechar, algumas corridas leves de 7 à 10km, 2 à 3 vezes por semana.
5. O EQUIPAMENTO - UMA OBSESSÃO
Provas de longa distância requerem equipamentos de qualidade, testados e devidamente regulados. Equipamento perfeito para mim é questão de prioridade. Já vi grandes randoneiros abandonarem provas importantes por problemas banais.
É claro que problemas acontecem, entretanto, temos condições de minimizá-los com uma boa manutenção e prevenção dos equipamentos.
Peças reserva levadas na bolsa de bagageiro: pneu 700x23, corrente, 6 câmeras, raios dianteiros e traseiros (tamanhos diferentes), rolamentos para os cubos.
6. CHEGADA À ITÁLIA - RECEPÇÃO INESPERADA
Alguns dias antes do embarque recebi um e-mail do Sr. Gaetano Bollini que identificava-se como da equipe de voluntários e responsável pelo traslado dos participantes da prova de Malpensa (aeroporto de Milão) a Nerviano. Após a troca de alguns e-mails, combinamos que Gaetano faria o meu traslado e o da Joana quando de nossa chegada na Itália.
Chegamos dia 8 em Malpensa por volta das 13:30, horário local. Após a passagem pela imigração, fomos diretamente para as esteiras aguardar as bagagens. Tudo certo, todas chegaram. Na sala de desembarque, Gaetano já estava no aguardo com uma enorme placa 1001 Miglia.
Fomos extremamente bem recebidos. Gaetano, um senhor de 72 anos, aparentando 60, de fácil comunicação, levou-nos para sua casa, onde fomos brindados com um típico almoço italiano (massa, pão, salames, antepastos e prosseco para o brinde) cuidadosamente preparado por sua irmã Giovanna (Joana em italiano) e Giuseppina, sua prima, duas adoráveis senhoras. De quebra, fui presenteado por Gaetano com uma Maglia Rosa, a camisa utilizada pelo ciclista líder do Giro D'Itália. Esta recepção veio à tornar-se, para mim e para Joana, a mais grata lembrança que tivemos desta viagem. Estarmos em um novo país e sendo recebidos por pessoas totalmente desconhecidas daquela maneira realmente nos emocionou muito.
Ficamos grandes amigos de Gaetano, Giuseppina e Giovanna. A recepção inicial repetiu-se no nosso último dia, 25 de agosto, com o almoço de despedida.
7. RETIRADA DOS KITS E ENCOMENDAS DE VESTUÁRIO
No dia da prova, 16/08, pela manhã, fomos à um lindo Mosteiro próximo ao parque de largada para a retirada do Kit da prova e pagamento/retirada dos vestuários personalizados 1001 Miglia (camisa, bermuda, boné, etc) encomendados previamente através de um formulário enviado à organização.
O Kit continha a placa de identificação (a minha foi 202), uma camisa 1001 Miglia, passaporte e o road book: um livro plastificado com todas as etapas e todas as direções à seguir, tal qual um mapa de navegação.
Havia uma mesa para cilistas italianos e outra para ciclistas estrangeiros, de 42 países diferentes.
Após a retirada dos kits fomos cadastrar o veículo para o apoio. Preenchemos um formulário e recebemos um adesivo grande para ser colocado no vidro.
Havia também um setor para a retirada de 2 grandes sacolas numeradas com o número do participante, os "bagdrops", para colocação de roupas e outras utilidades à serem disponibilizadas em dois pontos de controle.
Duas grandes bandeiras 1001 Miglia ficavam à disposição dos participantes para assinatura.
8. BRIEFING - A NAVEGAÇÃO
O briefing ocorreu às 17:00 no parque da largada. Foi rápido, não durou mais que 40 minutos e as informações mais importantes foram de que teria um controle surpresa em algum ponto da prova e de que o roadbook era o mapa oficial do trajeto da prova, mesmo que houvesse sido disponiblizado no site 1001 Miglia um arquivo de GPS. Haveria também sinalizações no asfalto, entretanto as mesmas deveriam ser entendidas apenas como orientativas, podendo não estarem presentes em alguns pontos.
Quanto à questão roadbook versus GPS, cabe aqui alguns esclarecimentos: alguns setores da organização do 1001 Miglia são contra à utilização de GPS por entenderem que o randonnée é uma prova auto-sustentável e que o participante deve auto-orientar-se pelo mapa impresso. Outros setores veem o GPS com bons olhos e gostariam de colocar o arquivo eletrônico também como oficial.
Na prática, utlizei direto o GPS e o trajeto apresentou poucas diferenças em relação ao roadbook oficial. O uso do GPS simplifica a navegação e poupa perda de tempo com paradas para a interpretação da mapa. Tive alguns problemas apenas na saída do último PC (Castelania) onde o arquivo GPS não correspondia com o trajeto correto.
9. A PROVA - FINALMENTE
LARGADA PC00 - FOMBIO PC01
104km, 104km acumulados
Grande tensão tomava conta de mim e do Isac horas antes da largada. Jantamos por volta das 19:30 e fomos pedalando do Poli Hotel ao local de largada (um pequeno parque/camping) à cerca de 3km. Ao chegarmos lá, grande parte dos ciclistas (em torno de 200) já alinhavam para a largada, formando filas em grupos de quatro.
Pontualmente às 21:00 largou o primeiro pelotão com 30 cilistas e assim, sucessivamente, era liberado um grupo à cada cinco minutos. Grande número de pessoas acompanhavam e aplaudiam à cada largada.
Ao aproximar-se da linha de largada, nossa carta de rota foi carimbada e passado o cartão magnético que abastecia o site. Largamos às 21:45, no décimo pelotão. Tempo seco e temperatura agradável, em tormo de 18°C.
Nosso pelotão girava em um ritmo rápido. Eu e o Isac nos posicionamos na primeira parte do grupo e seguimos o ritmo forte inicial. Pouquíssimo vento, temperatura agradável e estradas perfeitas levavam a média para 32km/h. No meio desta etapa uma surpresa: um grande buraco no meio da estrada foi a causa de alguns pneus furados. Por sorte passamos ilesos e logo alcançamos dois grupos que partiram anteriormente.
Rapidamente, em cerca de 03:20 chegamos à FOMBIO, PC 01 (104km), um controle apenas de passagem, sem estrutura de alimentação. Pelo grande número de ciclistas próximos, neste PC e no PC 02, o passaporte foi apenas carimbado, não tendo sido marcado o horário de chegada.
FOMBIO PC01 - COLORNO PC02
84km, 188km acumulados
Seguindo o mesmo ritmo da largada e em pelotão, chegamos por volta das 04:15 da manhã em Colorno, um belo vilarejo. A média continuava acima dos 30km/h e era importante aproveitar o trajeto plano e a temperatura amena antes do amanhecer para poder reduzir depois.
COLORNO PC02 - MASSA FINALESE PC03
83km, 271km acumulados
No meio do trajeto amanhece e a diminuição da qualidade do asfalto faz cair um pouco a média, mesmo assim continua boa em função das rápidas paradas. Os randonneurs começam à dispersar, o Isac avança alguns qulômetros à frente e pela primeira vez pedalo alguns trechos sozinho. A fome começa à bater e por volta das 06:30 encontro um bar-café aberto com pães, croisants, etc. Foi o melhor café da manhã de toda a prova.
A chegada foi às 07:35 do dia 17. No PC, uma boa estrutura de alimentação: água, sucos, massa, arroz, frutas, etc. Aproveito para comer bastante, completar a mochila de hidratação com água e as caramanholas com isotônico. Fico em torno de uma hora no PC e saio com o Isac, que logo avança novamente.
MASSA FINALESE PC03 - FAENZA PC04
120km, 391km acumulados
Etapa longa e sob forte calor. Com o dia claro evidencia-se a bela paisagem e as incríveis edificações do interior da Itália. Casas, igrejas e monumentos multiseculares aparecem à cada momento, tornado a pedalada agradável e cheia de expectativas. A idéia de ganhar tempo na parte plana permanece e as pernas obedecem: chego em Faenza para almoçar às 13:12 horas, onde o Isac já chegara. Pedalei a maior parte do trajeto sozinho. O GPS reproduz o trajeto com exatidão.
O PC é um grande restaurante no qual a organização disponibilizou um ticket referente à um prato de massa.
Um pouco cansado pelo sol escaldante fico em torno de uma hora e meio parado. Prestes à sair, o Isac pede para aguardar para ir ao banheiro, aguardo por ele cerca de 15 minutos.
Partimos agora para o última fase do dia, a planície ficava para trás e iniciavam-se as longas etapas de montanhas, a hora da "onça beber água".
FAENZA PC04 - DICOMANO PC05
95km, 486km acumulados
Pequena descrição do trajeto: a etapa seria relativamente plana do km 0 ao 30, subindo então de 100m do km 30 à 880m no km 72, descendo até 200m no km 95 (PC05 - Dicomano). Foram 42km de subida de 200 à 880m, com um grau de inclinação plenamente suportável, porém constante.
Saí de Faenza junto com o Isac, que num piscar de olhos disparou à frente. Logo perdi contato visual. Passei à pedalar sozinho, seguindo as orientações do GPS e também de olho nas setas pintadas no asfalto, que davam-me a certeza de estar na rota certa.
No meio deste trajeto passou por mim, pela primeira vez, nosso carro de apoio, pilotado pela Joana e Raquel. As duas haviam pernoitado em Nerviano (local da largada) e iniciavam sua longa jornada de acompanhamento a mim e ao Isac.
Procurando poupar-me para o dia seguinte subi em giro baixo levando cinco horas e meia para concluir a etapa. Cheguei em Dicomano ao anoitecer (20:15), bastante cansado.
Joana aguarda-ve com um suculento prato de spagetti ao suco, dei algumas garfadas mas estava bastante cansado do forte ritmo do primeiro dia. Só queria dormir. Sabia que o pior estava por vir, mas ao final da prova, constatei que aquela chegada em Dicomano acabou sendo meu momento de maior cansaço em todo o giro.
Uma surpresa ao chegar foi o ausência do Isac, que chegou cerca de três horas depois. Ficamos sabendo em sua chegada que perdeu-se no início da etapa e teve sua corrente arrebentada na subida. Entretanto tudo ok com ele, continuava firme.
O PC era um ginásio que oferecia duchas quentes muito boas e colchonetes simples. Após um bom banho, dormi por volta de quatro horas, das 21:30 às 01:30, o sono foi muito reparador. A Joana e Raquel dormiram no parte da noite no Ginásio e parte no carro.
Acordei, arrumei minhas coisas, e parti para o segundo dia de pedal (18/08) às 02:00. O Isac, que chegou mais tarde, ficou mais tempo dormindo.
No planejamento do dia, quatro etapas à cumprir (PC's 06, 07, 08 e 09), 302km, com a 06 e 09 sendo as mais duras.
Final da Primeira Parte do Relato

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A torcida dos amigos

Algumas pessoas encontraram dificuldade em postar comentárioas em nosso blog. Assim, alguns cometários acabaram chegando por e-mail. Como consideramos toda torcida e todo carinho dos amigos muito especial estamos fazendo aqui um post para compartilhar essas mensagens que chegaram por outras vias. Valeu galera! Muito obrigada!

Rubens.

Bela medalha e com certeza merecida.

O certificado tem que botar na parede.

Meus parabéns.

É uma prova de determinação e competência.

Joana.

Aproveita bastante o passeio, descansa, curte te diverte.

Na Bio, estamos com saudades.

Tu estás fazendo falta.

Quando vocês voltam?

Até.

Nasser

Bah que legaaaaaallll!!!

Parabéns Rubens – tu és o nosso herói!!!!!

1000 bjs pra vcs.

Joana, tu estás linda e fazendo belas fotos, hem.

Lídia.

Bom dia! Olha, estou acompnhando de perto o Blog. Primeiramente parabéns pela iniciativa e competência. Está muito legal. Não sei porque (talvez por algum bloqueio aqui no meu serviço), não consigo postar mensagens lá no BLOG. Então, peço o favor de que, assim que for possível, envie uma mensagem carregadíssima de energia e torcida pelos dois. Estou aqui pedalando junto e concentrado em cada etapa da prova. Manda os parbés pela conclusão da primeira etapa. Abração. Endres